Entrevista realizada em 2008 ao saopaulo.sp.gov.com.br
Hospital criou laboratório específico para estudar o comportamento desse tipo de paciente
Em situações que geram raiva, como você reage? Tem pavio curto, perde o controle, xinga, briga, bate, quebra objetos e depois se arrepende? Cuidado! Se você não consegue controlar seus impulsos agressivos e tem dificuldade de lidar com a raiva, isso pode ser sinal de doença emocional de nome complicado: transtorno explosivo intermitente.
O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas acaba de criar ambulatório, pioneiro no Brasil, para estudar e tratar portadores da enfermidade. O Ambulatório de Transtorno Explosivo Intermitente convoca pessoas com esse perfil para tratamento e controle dos sintomas.
As coordenadoras Christina Lahr e Vânia Calazans conceituam o transtorno como incapacidade em controlar impulsos de agressividade. As conseqüências advindas do mal são diversas: instabilidade familiar, sensível piora do convívio cotidiano, perda do emprego, exclusão familiar e escolar, dificuldade nos relacionamentos interpessoais, problemas financeiros e hospitalizações decorrentes de lesões geradas em brigas ou acidentes.
“No portador do transtorno, o impulso para agir agressivamente é mais rápido que o seu pensamento, diferente de um indivíduo nervoso, não-doente, que consegue controlar seu impulso de agir”, esclarece a psicóloga Paula de Menezes Karam, do Instituto de Psiquiatria.
Vergonha – O comportamento de uma pessoa acometida pelo transtorno explosivo intermitente, apesar de não ser premeditado, acarreta sentimento de culpa, vergonha e arrependimento. Se não for tratado gera depressão, ansiedade, abuso no uso de substâncias químicas, isolamento social e outras doenças psíquicas. “Como o paciente não consegue conter a agressividade, prefere manter-se isolado e recluso para não manifestar seus impulsos”, explica a psicóloga.
Os interessados em integrar o tratamento passarão por triagem, para avaliar se o diagnóstico é positivo. Os casos confirmados terão tratamento de 20 semanas (uma vez por semana) que inclui psicoterapia em grupo com psicólogos e psiquiatras. A psicóloga adianta que os pacientes conhecerão a abordagem conceitual da doença e suas conseqüências. O intuito da assistência é incentivar as habilidades sociais necessárias para que o doente aprenda a agir de forma assertiva e a lidar melhor com os seus impulsos.
A doença é ocasionada pela predisposição física, fatores psicológicos e sociais. Em relação às causas psicológicas, Paula destaca duas situações: aumento de estresse e comportamentos agressivos no meio familiar, os quais são reproduzidos pelos filhos.
Alguns bebês nascem com predisposição para desenvolver o transtorno. Dependendo de fatores ambientais, no decorrer da vida, podem ou não adoecer.
Impulso do amor – O serviço que está sendo criado é uma subdivisão do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti) do Instituto de Psiquiatria. Lá, são assistidos os pacientes com diversos transtornos de impulso, entre eles tricotilomania (arrancam tufos de cabelo impulsivamente), cleptomania (furtam impulsivamente, independentemente do valor) e amor patológico. “Faltava conhecer o transtorno explosivo intermitente, bastante estudado nos Estados Unidos”, informa a psicóloga.
O Amiti do Instituto de Psiquiatria é ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Perfil do possível portador do transtorno
. Nos momentos de raiva, não consegue conter seu comportamento e acaba perdendo o controle: xinga, berra, ameaça, destrói objetos, ataca fisicamente as pessoas
. Apesar de não premeditar, depois desses ataques percebe que exagerou nas atitudes e sente vergonha, culpa e arrependimento
. Seus ataques de raiva nada têm a ver com o uso de álcool ou de drogas
. Apesar desses comportamentos, o possível portador do transtorno não tem problemas com a Justiça
. Geralmente, na família há pessoas que apresentam o mesmo problema
Link da entrevista: http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/hc-trata-pessoas-com-transtorno-explosivo/